Ambição é saudável. O que adoece é a ambição sem critério, sem recuperação e sem confiança Muitas empresas dizem que querem alta performance. O discurso parece impecável: metas claras, excelência, meritocracia, velocidade. O paradoxo aparece quando o ambiente começa a adoecer pessoas e, ainda assim, se chama de 'alta performance'. Nesse cenário, a empresa entrega resultados por um tempo, mas perde o que sustenta resultados no longo prazo: energia, confiança e capacidade de aprender. Culturas que combinam pressão alta com baixa recuperação e pouca segurança psicológica tendem a aumentar burnout e reduzir desempenho sustentado. Performance real não é correr o tempo todo. É conseguir manter qualidade e evolução mesmo sob pressão. Quando a organização só sabe acelerar, ela troca consistência por desgaste. Quando alta performance vira urgência permanente Um sinal comum é a normalização do 'sempre urgente'. Tudo é prioridade, tudo é para ontem, tudo é tratado como crítico. Isso cria uma sensação contínua de atraso. O time trabalha em modo alerta, com pouco espaço para planejar, pensar e ajustar processo. A empresa interpreta a correria como produtividade. Mas correria é apenas movimento. No longo prazo, urgência permanente reduz qualidade. A equipe improvisa, entrega rápido, corrige depois. O retrabalho aumenta. E o retrabalho vira mais urgência. O ciclo se fecha, e ninguém consegue parar para consertar porque está ocupado demais 'performando'. O culto ao herói e a punição do limite Outra marca dessa cultura é premiar quem se ultrapassa. Quem vira noite, responde fora de hora, carrega o que não é dele, 'segura a barra'. O limite vira fraqueza. O descanso vira suspeita. A empresa diz que valoriza resultado, mas na prática valoriza disponibilidade e sofrimento. Esse culto ao herói é um problema de negócios, não apenas humano. Ele impede escala. Se tudo depende de esforço extra, o sistema é frágil. Basta uma saída ou uma queda de energia para o castelo tremer. E, enquanto isso, talentos mais maduros, que buscam sustentabilidade, começam a procurar outro lugar para crescer. A métrica que ninguém olha: confiança Alta performance de verdade depende de confiança. Confiança para trazer problemas cedo. Confiança para discordar. Confiança para errar pequeno e aprender rápido. Em culturas doentes, a confiança cai e o time entra em autoproteção. Pessoas evitam exposição, escondem riscos, pedem validação para tudo e reduzem iniciativa. A empresa pode até bater metas, mas perde inteligência coletiva. E sem inteligência coletiva, ela fica menos adaptável, menos inovadora e mais vulnerável a crises. Como reverter sem perder ambição O primeiro passo é diferenciar performance de exaustão. Resultado bom não justifica processo ruim. Líderes precisam olhar para o custo do resultado: horas extras, retrabalho, rotatividade, conflitos, silêncio. Esses sinais mostram se a performance é sustentável ou apenas heroica. O segundo passo é reduzir excesso de prioridade. Foco é um ato de liderança. Se tudo é importante, a empresa só está terceirizando a dor da escolha para a base. O terceiro passo é criar rituais de aprendizado. Revisões de ciclo, pós-mortem sem caça a culpados, feedback específico e alinhamento de critérios. Isso transforma pressão em evolução, não em desgaste. No fim, cultura de alta performance não é a que exige mais. É a que constrói um sistema onde pessoas conseguem entregar alto sem se destruir. Ambição é saudável. O que adoece é a ambição sem critério, sem recuperação e sem confiança. Se a sua cultura chama sofrimento de alta performance, talvez ela esteja apenas atrasando a conta.