A tecnologia mudou nossa leitura. Este livro explica como isso está mudando nosso cérebro

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Essa obra alerta para a perda da leitura profunda, essencial para atenção, análise crítica e empatia, e mostra como equilibrar tecnologia e reflexão para proteger o cérebro leitor
Vivemos cercados por telas, notificações e fluxos infinitos de informação. Nunca lemos tanto quanto agora, mas isso significa que estamos compreendendo melhor, pensando mais profundamente ou desenvolvendo habilidades cognitivas superiores? Muitas pessoas sentem que a leitura ficou mais superficial, que a concentração diminuiu e que refletir com profundidade se tornou raro. Não é impressão. É ciência.
Em “O cérebro no mundo digital”, Maryanne Wolf examina como a migração da leitura para ambientes digitais está remodelando o cérebro humano, principalmente de crianças e jovens. A autora é uma das maiores especialistas do mundo em neurociência da leitura e demonstra, com pesquisas e exemplos literários, que cada formato ativa circuitos cognitivos diferentes. Isso muda não apenas o que lemos, mas como pensamos.
O que perdemos quando a leitura se acelera demais
A leitura profunda, aquela que exige atenção contínua, análise crítica e empatia, é um processo sofisticado que o cérebro não executa automaticamente. Ele precisa ser treinado para isso.
Wolf mostra que, no ambiente digital, o leitor se acostuma a percorrer textos de forma rápida, saltando informações e priorizando velocidade em vez de interpretação. Essa leitura fragmentada diminui a capacidade de fazer conexões complexas, refletir com profundidade e sustentar argumentos.
A consequência aparece no ambiente de trabalho: profissionais que se distraem com facilidade, compreendem menos um relatório complexo e têm dificuldade em interpretar nuances importantes de uma decisão estratégica.
Como o digital molda a cognição de uma geração inteira
Crianças e jovens estão desenvolvendo o cérebro em um contexto dominado por telas. Segundo Wolf, isso altera o desenvolvimento dos circuitos da leitura profunda antes mesmo que esses circuitos sejam plenamente formados.
A autora apresenta casos e pesquisas que explicam por que alunos expostos precocemente à leitura digital tendem a ter menor capacidade de concentração e mais resistência a textos densos.
Isso não significa que a tecnologia seja um inimigo. Wolf argumenta que o equilíbrio entre leitura digital e leitura profunda é possível, mas que exige intencionalidade tanto na educação quanto no ambiente corporativo.
O que podemos fazer para proteger (e aprimorar) nosso cérebro leitor
“O cérebro no mundo digital” oferece soluções práticas. Wolf propõe rotinas de leitura que resgatam a profundidade, alternando textos curtos e longos, reduzindo interrupções e criando momentos de reflexão.
Para profissionais, isso significa desenvolver a habilidade de alternar entre leitura rápida – útil para acompanhar o volume de informação – e leitura profunda – indispensável para análise estratégica, tomada de decisão e criatividade.
No fim, o livro é um alerta e, ao mesmo tempo, uma defesa apaixonada da leitura como ferramenta de humanidade. Para Wolf, pensar criticamente, sentir empatia e compreender o mundo com profundidade dependem de um cérebro treinado para isso.









