O recado da ciência é simples: caminhar pouco, mas todos os dias, pode valer muito — especialmente para o cérebro Durante anos, a recomendação de 'dar 10 mil passos por dia' foi tratada quase como mandamento universal de saúde. Mas a ciência já mostrou que essa meta não nasceu de um laboratório — e sim de uma campanha de marketing japonesa dos anos 1960. Ainda que caminhar mais seja sempre positivo, não existe evidência sólida de que 10 mil passos sejam o ponto de virada para a saúde. Agora, novas pesquisas começam a revelar um número bem mais realista — e muito mais relevante — para quem quer proteger a saúde do cérebro. De acordo com um estudo conduzido pela Harvard Medical School e publicado em Nature Medicine, quantidades bem menores de passos já podem retardar o envelhecimento mental e reduzir o risco de declínio cognitivo. O que o estudo da Harvard Medical School descobriu De acordo com pesquisa publicada em Nature Medicine, cientistas acompanharam cerca de 300 adultos entre 50 e 90 anos ao longo de 14 anos. Todos começaram o estudo com função cognitiva normal, mas alguns já apresentavam marcadores iniciais de Alzheimer detectados por exames como PET scan. Os participantes usavam pedômetros para registrar o nível de atividade diária, e periodicamente passavam por testes cognitivos. O que os pesquisadores observaram muda a forma como encaramos a atividade física na maturidade: Pessoas sem marcadores iniciais de Alzheimer mantiveram boa função cognitiva independentemente da quantidade de passos. Já entre aqueles que apresentavam sinais iniciais da doença, caminhar fez enorme diferença. Segundo o estudo: 3.000 a 5.000 passos por dia atrasaram o declínio cognitivo em até 3 anos. Entre 5.000 e 7.500 passos, o declínio foi retardado em até 7 anos. Acima disso, os benefícios não aumentaram significativamente. Para adultos mais velhos ou sedentários, é uma descoberta animadora: metas acessíveis — muito abaixo dos 10 mil passos — já podem oferecer proteção real ao cérebro. Outras pesquisas reforçam a mesma conclusão Segundo estudos citados por especialistas como a psicóloga Eef Hogervorst, da Loughborough University, diferentes pesquisas vêm apontando para a mesma direção: Uma análise com mais de mil pessoas acima dos 50 anos mostrou redução de 34% a 50% no risco de demência em quem mantinha atividade moderada a vigorosa. Um estudo britânico com 78.430 pessoas revelou que apenas 3.800 passos por dia já reduziam o risco de demência em 25%, chegando a 50% de redução em torno de 9.800 passos. A quantidade exata ainda varia entre estudos, mas o padrão é claro: moderados níveis de movimento diário já têm impacto profundo no envelhecimento cerebral. Como potencializar os benefícios da caminhada Além de alcançar metas factíveis de passos, alguns ajustes podem ampliar os efeitos protetores da caminhada: 1. Varie o ritmoAlternar trechos rápidos com momentos mais lentos — seja para conversar, observar a paisagem ou recuperar o fôlego — aumenta os efeitos metabólicos e cognitivos. 2. Caminhe ao ar livreSegundo pesquisadores, caminhar em ambientes naturais pode reduzir isolamento, melhorar humor, regular o sono e amplificar os benefícios cognitivos. 3. Priorize consistência, não intensidadeMovimentos curtos e diários, acumulados ao longo da semana, tendem a fazer mais diferença do que metas esporádicas e muito intensas. O que tudo isso significa para quem está envelhecendo — ou quer envelhecer bem A maior lição dos estudos é clara: não deixe o número de 10 mil passos te desmotivar. Ele nunca foi embasado em ciência, e não precisa orientar sua rotina. Para a mente e o cérebro, quantidades muito menores já fazem enorme diferença. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Se você está em fase de risco, tem histórico familiar, ou simplesmente deseja manter o pensamento ágil por mais tempo, o novo 'número mágico' está bem mais próximo — e ao seu alcance: 3 a 5 mil passos por dia já ajudam.5 a 7,5 mil passos ampliam a proteção. Combinada a pequenas mudanças de ritmo, exposição à luz natural e contato social durante a caminhada, essa rotina tem potencial para preservar anos de saúde cognitiva. O recado da ciência é simples: caminhar pouco, mas todos os dias, pode valer muito — especialmente para o cérebro.