O Recall utiliza inteligência artificial para armazenar e indexar imagens periódicas da atividade do usuário A Microsoft voltou a testar o Recall, ferramenta de inteligência artificial que tira capturas de tela do que o usuário faz no computador a cada três segundos. Após a forte reação negativa do público em 2024, quando foi anunciado, o recurso agora reaparece em versão prévia no Windows 11 Build 26100.3902, reacendendo um intenso debate sobre segurança e privacidade digital. Lançado inicialmente em maio do ano passado, o Recall foi duramente criticado por especialistas em segurança. Eles alertaram que a ferramenta poderia se transformar em um “tesouro” para invasores, caso obtivessem acesso — mesmo que breve — ao dispositivo. Ativistas de privacidade destacaram ainda o risco do recurso em contextos de violência doméstica, além do potencial de captura de conteúdo sensível em aplicativos projetados para preservar a confidencialidade, como o Signal. O que é o Recall? O Recall utiliza inteligência artificial para armazenar e indexar imagens periódicas da atividade do usuário. A ideia da Microsoft é facilitar a busca por conteúdos previamente visualizados, permitindo que o usuário retorne rapidamente a aplicativos, documentos ou sites, bastando descrevê-los. A nova versão do recurso, segundo a empresa, exigirá opt-in (ativação voluntária) e autenticação por biometria (via Windows Hello) para acesso às capturas. O usuário poderá pausar o recurso e apagar imagens específicas a qualquer momento. Mesmo assim, essas mudanças não parecem suficientes para mitigar os principais temores. Preocupações persistem Segundo críticos, as salvaguardas apresentadas pela Microsoft não resolvem o problema central: o Recall pode registrar informações sensíveis de terceiros sem seu conhecimento ou consentimento. Basta que o recurso esteja ativo no computador de outra pessoa — como um amigo, colega de trabalho ou membro da família — para que mensagens, fotos e vídeos enviados por aplicativos privados sejam capturados, indexados e armazenados localmente. Além disso, a existência de um banco de dados detalhado com a atividade de um usuário representa um alvo valioso para cibercriminosos, governos e advogados em litígios. Softwares espiões, por exemplo, não precisariam mais buscar informações em locais específicos: bastaria acessar o histórico do Recall para obter dados completos e organizados. A polêmica da 'enxatificação' Para muitos, o Recall é mais um exemplo do que vem sendo chamado de enshittification — termo usado para descrever a imposição de recursos de inteligência artificial e outras funcionalidades não solicitadas em produtos já existentes, com pouco ou nenhum benefício real para os usuários. Ainda que a Microsoft não tenha respondido aos questionamentos sobre a reintrodução do recurso, a sensação entre especialistas é de que a empresa está ignorando os alertas que a levaram a suspender o Recall no passado. A polêmica mostra que, mesmo em tempos de avanço acelerado da IA, o direito à privacidade digital continua sendo um campo de disputa. E, pelo visto, essa batalha está longe de terminar.