Se uma empresa quer que a IA vire resultado, precisa virar segurança e clareza primeiro A corrida corporativa para colocar inteligência artificial em todos os processos está esbarrando em um obstáculo conhecido, mas agora medido com mais clareza. A distância entre a expectativa dos gestores, que veem ganhos de eficiência e produtividade, e a percepção dos funcionários, que seguem desconfiados dos riscos, está crescendo. E um novo estudo mostra que existe um caminho pouco óbvio para reduzir essa resistência: aumentar a sensação de estabilidade profissional. Os dados são de uma pesquisa da Edelman, citada pela HRDive, que analisou como emoções e confiança moldam a disposição dos trabalhadores em usar IA no dia a dia. O levantamento sugere que não basta oferecer tecnologia. É preciso cuidar do contexto psicológico em que ela chega à operação, especialmente quando o tema toca em medo de substituição e falta de transparência dentro das empresas. Confiança e medo explicam o freio O estudo aponta algo direto: quem se sente mais seguro em relação ao próprio emprego tende a aceitar melhor a IA. Entre os entrevistados com visão positiva sobre a tecnologia, metade disse estar disposta a adotá-la. Já no grupo que enxerga a IA como ameaça, apenas 21% mostraram abertura. O recado é simples. O sentimento de risco derruba a colaboração, mesmo quando a ferramenta promete ganhos reais. Há um dado curioso no levantamento. Entre trabalhadores que acreditam que suas funções podem ser feitas por IA em breve, 43% ainda assim aceitam a tecnologia. Já entre quem discorda dessa possibilidade, somente 26% abraçam o uso. A interpretação possível é que, quando a automação parece inevitável, parte das pessoas tenta se antecipar e aprender, enquanto quem não percebe urgência não encontra motivo para mudar hábitos. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Outro indicador reforça a ideia de enquadramento. Quando a IA é apresentada como ferramenta de empoderamento e não de substituição, 59% dos profissionais nos Estados Unidos dizem se sentir mais entusiasmados. E a maioria afirma que treinamentos de alta qualidade teriam efeito semelhante. Adoção depende de narrativa e transparência A pesquisa também expõe diferenças internacionais importantes. Enquanto 54% dos trabalhadores chineses e 35% dos brasileiros se mostram receptivos à IA, apenas 17% dos norte-americanos dizem aceitar a tecnologia. O mesmo relatório indica que metade dos profissionais nos Estados Unidos chega a recusar o uso, o que coloca o país como um dos mais resistentes na amostra. Essa resistência não se explica só por medo de perda de tarefas. O próprio estudo sugere um problema mais profundo: confiança. Os trabalhadores afirmam confiar muito mais em pessoas próximas do que em lideranças empresariais. Nos Estados Unidos, 78% dizem confiar em 'alguém como eu', além de família e amigos, para entender a verdade sobre os impactos da IA. CEOs, governos e especialistas ficam bem abaixo nessa hierarquia de credibilidade. É por isso que a recomendação prática do estudo converge com outra pesquisa citada no texto, da SHL. A conclusão é que empresas não deveriam ficar em silêncio sobre como usam IA. Explicar objetivos, limites, critérios e responsabilidades não é apenas comunicação institucional. É uma estratégia para reconstruir confiança e evitar que a tecnologia seja vista como instrumento de controle ou exclusão. No fim, o recado que fica para quem lidera transformações é direto. Se a empresa quer que a IA vire resultado, precisa virar segurança e clareza primeiro. Treinar bem, mostrar onde a tecnologia entra, dizer por que entra e deixar explícito quais empregos não estão em jogo pode ser a diferença entre adoção real e boicote silencioso.