1. INTRODUÇÃO Modernidade Líquida, sociedade flexível, quebra de paradigmas… São esses é muitos outros os termos apresentados pelo Sociólogo Polonês Zygmunt Bauman, no livro 'Modernidade Líquida', que descreve com maestria as transformações sociais vividas contemporaneamente em todas as esferas: vida pública, privada, relacionamentos humanos, relações trabalhistas, estado e instituições sociais. Temos por intuito, ao longo deste trabalho, abordar essa liquefação social descrita por Bauman e seu impacto nas relações público-privado. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Apresentar os fatos e conceitos, abordados por Zygmunt Bauman, no subtítulo do capítulo I, do livro Modernidade Líquida, 'O compromisso da teoria crítica na sociedade dos indivíduos'; identificando a sua atuação e as conseqüências, tanto no âmbito individual quanto no âmbito coletivo. 2.2 Objetivos específicos a) Identificar os conceitos apresentados por Bauman; b) Diferenciar conforme visão do autor os indivíduos de jure dos indivíduos de facto; c) Associar os conceitos apresentados à sociedade moderna e seus reflexos no cotidiano; d) Definir o papel da teoria crítica na sociedade moderna e pós-moderna; e) Indicar as consequências da mudança de postura da teoria crítica. 3. CONCEITOS IMPORTANTES 3.1 Modernidade/Pós-modernidade Modernidade nos traz a percepção e/ou relação com uma visão de mundo moderno, empreendido em diversas etapas ao longo da Idade Moderna e consolidada com a Revolução Industrial. Este termo está normalmente relacionado ao desenvolvimento do Capitalismo. Nota-se que ao importarmos esse conceito ao momento atual, ele aparece desfigurado, e encontramos em sua oposição o conceito de pós-modernidade. Segundo Bauman, o que mudou foi a modernidade sólida, que cessa de existir e em seu lugar surge a modernidade líquida. Sendo a sucessora volátil, onde as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em sociedade, em geral, perde consistência e estabilidade. Ao analisar a sociedade da modernidade líquida, Bauman ressalta que a mesma é marcada pela fluidez e flexibilidade, sendo uma sociedade em constante mudança e nunca com uma forma definida. Esta nova ordem além de visivelmente mais flexível que a anterior, é também mais sólida, não no sentido de inflexível, mas de inabalável, pois dificilmente é atingida por ações que não sejam econômicas. 4. CAPÍTULO I 4.1 Emancipação Ao fim das três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, época de prosperidade, de uma sociedade rica e poderosa, apresentou-se como problema o dever de emancipação, não a libertação em si, mas a falta de desejo das pessoas para serem libertadas. Libertar-se significa sentir-se livre das limitações, ser livre para agir conforme os desejos. Uma ameaça que atormentava os filósofos era que as pessoas pudessem não querer ser livres, pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar. Discutia-se se a liberdade era uma benção ou uma maldição, houve dois tipos de resposta: a primeira questionava a prontidão do povo para a liberdade, se estaria o povo preparado para tal, ou ainda, se o povo gostaria de gozar deste direito; a segunda, aceita que os homens estariam corretos ao se questionar quanto às vantagens de 'serem livres'. 5. COMPROMISSO DA TEORIA CRÍTICA NA SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS 5.1 Individualização na Modernidade Líquida A individualização ganha força, sendo entendida como a transformação da 'identidade' humana de um 'dado' em uma tarefa, e encarregam os atores (indivíduos) da responsabilidade de todos os seus atos. Somos, então, responsáveis por tudo o que fazemos, não cabe mais colocarmos a culpa pela nossa ineficiência no meio em que vivemos ou nos outros indivíduos. Observa-se a sensação de falsa liberdade e o desengajamento. O maior problema da sociedade atual está justamente nesta ausência de se auto-questionar e se posicionar. É muito mais cômodo nos mantermos indiferentes, não buscarmos e/ou questionarmos quanto que tipo de situação seria mais agradável, ou o porquê são nos impostas determinadas condições. Existe uma separação entre liberdade criada pelas leis e a liberdade real, ocasionando uma diferenciação entre a autonomia de jure, liberdade jurídico-institucional, e a autonomia de facto, uma liberdade real. O indivíduo atinge sua autonomia de jure, porém essa não é transformada em autonomia de facto. O efeito deste abismo dentro da autonomia é que os riscos são socialmente produzidos, entretanto a necessidade e o dever de encará-los passam a ser individuais. 5.2 Modernidade Líquida: Exemplo Real A dualidade entre a prática (relações sociais) e as normas (leis), abre espaço ao clientelismo, favoritismo, entre outras formas de favorecimento social. Diante a incapacidade da economia nacional em absorver a mão-de-obra disponível, por exemplo, cabe a burocracia nacional a tarefa de absorver este excedente populacional, seja na forma de funcionários públicos ou em ações sociais que transferem renda para a população. É nesse sentido que muitas políticas púbicas de inclusão social, embora tenham a intenção de emancipar os cidadãos, acabam por reforçar a situação de dependência. O espaço público para os indivíduos serve para jogar suas aflições privadas, sem transformá-las e sem adquirir novas facetas coletivas: '… Os indivíduos estão sendo, gradualmente, mas consistentemente, despidos da armadura protetora da cidadania e expropriados de suas capacidades e interesses cidadão.' (BAUMAN, 2001, p:50) Conclui-se, segundo Bauman: 'O indivíduo de jure (falso) não pode se tornar indivíduo de facto sem antes tornar-se cidadão. Não há indivíduo autônomo sem uma sociedade autônoma, e a autonomia da sociedade requer uma auto-constituição deliberada e perpétua, algo que só pode ser uma realização compartilhada de seus membros' (Bauman, 2001, p.50). 5. 3 Teoria Crítica A função precípua da Teoria Crítica é dissolver o hiato entre de jure e de facto, redesenhar o lugar de debate e encontrar negociação do privado e do público. A emancipação tem o significado de ligar o abismo entre 'a realidade do indivíduo de jure e as perspectivas do indivíduo de facto' (BAUMAN, 2001, pg.: 51). Se fizéssemos uma análise histórica perceberíamos facilmente que a teoria crítica se opunha à ação pública sobre a esfera privada, isto porque antigamente existiam regimes totalitários que entreviam de maneira bastante significativa no meio privado/individual. De acordo com Bauman: '… a tarefa da teoria crítica costumava ser a defesa da autonomia privada contra as tropas avançadas da esfera pública, soçobrando sob o domínio opressivo do Estado onipotente e impessoal' (BAUMAN, 2001, pg.: 51). Atualmente, nota-se a preocupação da teoria crítica em defender o pouco que resta do domínio público da ação desenfreada dos anseios privados: '(…) Hoje a tarefa é defender o evanescente domínio público que se esvazia rapidamente, ou, antes, reequipar e repovoar o espaço público que se esvazia rapidamente devido à deserção de ambos os lados: a retirada do 'cidadão interessado' e a fuga do poder real para um território que, por tudo que as instituições democráticas existentes são capazes de realizar, só pode ser descrito como um espaço cósmico.' (BAUMAN, 2001, pg.: 51). 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Devemos pensar em emancipação que transforme a autonomia do indivíduo de jure em de facto, reascendendo a esfera pública, o poder público, lutando sem desconsiderar as cadeias de relações de poder, e a individualização. Sendo, portanto, a atuação da teoria crítica extremamente importante na manutenção deste processo; ou seja, atuando como uma espécie de moderador, sendo eclética e flexível para ajustar-se ao lado mais fraco sempre que necessário. Não somente ao longo deste subtítulo do capítulo um, mas em todo o livro Bauman nos faz refletir, nos dando um brilhante panorama da sociedade contemporânea. Não poderíamos deixar de citar a frase com a qual Bauman encerra o seu livro: 'Escrever, escrever sociologia'. É neste momento, que ao deixar a didática de lado, Bauman abre caminho para que utilizemos da nossa criatividade para criarmos saídas alternativas a partir das atuais necessidades sociais que nos são apresentadas. Eis o caminho e/ou um convite para desvendarmos possibilidades ainda não exploradas.