Entre 2013 e 2016, o Brasil despencou da quinquagésima sétima para a octogésima terceira posição no ranking mundial de capital humano, índice conferido pelo Fórum Econômico Mundial. Mas o que significa isso? De forma bem objetiva, posso dizer que significa que estamos andando no caminho contrário do crescimento econômico que vem sendo anunciado e celebrado pelas mídias. Significa que falta a algumas partes vitais do nosso sistema produtivo o conceito de capital humano. Para compreender a teoria do capital humano, podemos fazer uso de alguns nomes, de forma a entender o conceito e a prática de forma bem concisa. Primeio, Schultz relaciona o fator humano ao ganho na produtividade, estabelecendo que o trabalhador qualificado por meio de educação gera mais lucro. Mincer (1958) nos apresenta a teoria de que o investimento em formação está diretamente relacionado à renda pessoal. Isso colocou no sistema produtivo duas novas peças: o funcionário que investe em si e em seu aprimoramento e o funcionário que aprende uma função e a exerce conforme foi ensinado indefinidamente. O capital humano está diretamente relacionado ao desenvolvimento da economia de uma forma geral. Se há mais investimento em educação, há maior produção e com mais qualidade, o que gera maior lucro e crescimento. Hirschman (1961) já deixou claro que o crescimento desordenado e desequilibrado se deve a investimentos desiguais em áreas estratégicas, em especial, a educação. No Japão, Deming (1990) escreveu quatorze pontos a serem observados para uma gestão de sucesso e lá estava, sendo aplicada em uma nação inteira, a teoria do capital humano. O ponto da teoria que nos interessa estabelecia a implementação de um forte programa de educação e aperfeiçoamento para todos na empresa. O que isso gerou? O japão que conhecemos hoje, uma potência sem freios, independente de todo o atraso que lhe foi imposto no pós-guerra. A tecnologia está igualmente disponível para todos, a matéria-prima é a mesma em todo lugar e as organizações usam, em geral, modelos padronizados de gestão. Onde reside o diferencial que pode fazer de um grupo sucesso e de outro um fracasso irremediável? No valor dado a seu capital humano. A empresa que almeja prosperar nos dias de hoje tem por obrigação valorizar e satisfazer seus funcionários à mesma medida em que valoriza e satisfaz seus clientes externos. Para você que está pensando em como um funcionário que exerça uma função qualquer pode ser ajudado por investimentos na sua educação: amplie seus horizontes, pense além das arestas da sua sala. Valorizar as partes do processo é, antes de tudo, um ato de esperteza. Um funcionário satisfeito produz mais e melhor, investe a si mesmo de volta na empresa e exerce o 'marketing espontâneo' ou a 'propaganda voluntária', atraindo mais talentos destacados, mais clientes e, por último, mais investimento. Não é sem razão que se usa o termo “capital”. Estamos falando de parte significativa e real do valor total da empresa. É consenso que uma companhia deve reinvestir parte do lucro em seu próprio crescimento, portanto, atençao à essa fatia do seu capital bruto, maior responsável pelo seu sucesso. De olho nas possibilidades de se cercar de funcionários cada vez mais preparados e satisfeitos, separei doze pontos a serem observados na relação entre a empresa e seu capital humano. Não é uma matemática precisa, e alguens pontos podem não ser aplicáveis em algum caso específico, mas todos devem ser capazes de gerar uma importante reflexão e algum crescimento. 1- Promover o crescimento das partes. Esse era o ponto óbvio. Claro que se estamos falando em desenvolver talentos, investir na educação do funcionário seria a primeira coisa a se pensar. Isso pode ser feito de duas formas: investir em um setor de desenvolvimento de talentos internos que prepare os seus funcionários de forma constante e progressiva ou estabelecer convênios com empresas de interesse na área de educação. De uma forma ou outra, o objetivo é alcançado e a escolha pode se basear nas necessidades e recursos que estão disponíveis. 2- Deixe claro posto e funções. Um funcionário excelente com desempenho exemplar certamente está ciente das suas obrigações e das especificidades de sua função. Não existe funcionário que vá trabalhar todos os dias sem a certeza do que deve fazer que se destaque dos colegas. Isso porque ele não pode se dedicar a nada integralmente. Cada um deve saber exatamente qual a sua função, quem está sob sua direta supervisão e a quem deve responder. Todos devem saber quais serão seus desafios e quais são as suas recompensas. 3- Clareza na estrutura organizacional. A estrutura de funcionamento e gerenciamento da empresa deve estar clara para todos. Os funcionários devem estar cientes de sua posição e sobre quais funções pode almejar. Isso é importante para que possam estabelecer suas próprias estratégias e dedicar seu tempo as causas adequadas. 4- Politica de responsabilidade social da empresa. A empresa é capaz de compartilhar com seu quadro de funcionários algo de que se orgulhar? Algo de que falar ao sair do ambiente de trabalho? Uma forma de manter funcionários engajados e, ao mesmo tempo, orgulhosos, é estabelecer uma política de responsabilidade social e trazer todos para participarem das ações. 5- Autoavaliação como prática constante. A todos cabe exercitar a autoavaliação. Implementar essa prática entre os colaboradores da empresa pode ser um passo de grande interesse em motivar o crescimento de todos. Cada ponto fraco de uma avaliação pode ser o gatilho para o inicio de um novo ciclo. Seja um bom exemplo disso, estimule os processos de auto-conhecimento e crítica. 6- Avaliação constante de performance das partes com feedback. Avaliações constantes de equipe com feedback são a chave para manter a união do grupo e permitir que os pontos a serem desenvolvidos se destaquem. Devem ser abertas e todos devem ter voz, ou não fazem sentido. O risco aqui é a geração de conflitos. Para isso, um bom mediador para os encontros se faz necessário. Seja sensível para caratcerísitcas pesssoais. é possível que algum feedback particular deva ser feito de maneira mais pessoal e discreta. Não são todos que são capazes de lidar com uma avaliação de forma pública. Vale a máxima: elogie em público, desaprove em particular. 7- Reunião aberta sobre desempenho geral. Ousar e se permitir crescer passa por se colocar lado a lado na berlinda com seu time, de forma que a empresa também deve se deixar avaliar. Muitas grandes ideias podem estar adormecidas, presas sem voz entre seus colaboradores. Dê voz ao seu grupo, é de interesse de todos que as grandes ideias apareçam. 8- A vida corporativa sendo permeada pela vida social. Os trabalhadores de todos os níveis empresariais carecem de vida fora da corporação. Permitir que isso aconteça é nobre e estimular é saudável. A sua estrutura empresarial te permite uma confraternização no fim de semana em um sítio com atividades para a família? Ou quem sabe você pode criar novos eventos e utilizar as salas de reunião para outros fins. Pode ser que seu orçamento permita que algum destaque eleito pelo grupo receba convites para um filme com a família. Não há limite para trazer vida para dentro da empresa e deixar que esta flore dos funcionários como mais energia para vencer. 9- Esteja próximo e presente. Um superior na cadeia organizacional deve estar sempre disponível e acessível. Se a hora não é boa, deixe isso claro e retorne o contato. Tenha portas abertas para que as ideias floresçam e os problemas cheguem ainda pequenos e tratáveis. Cada indivíduo é parte do todo e deve ser capaz de entender a própria importância, se sentir merecedor de atenção e, porque não, de afeto. 10- Comunique claramente. Qualquer informação nova ou velha deve ser amplamente difundida e a certeza de que todos compreenderam a mensagem deve existir. Se for preciso, você deve ser visual, tátil e sonoro. Faça o que for preciso para que haja um entendimento comum, lembrando que cada indivíduo aprende e apreende de forma e em tempos diferentes. Se a comunicação existir de forma efetiva, ninguém vai se sentir fora do todo, e problemas serão evitados. 11-Reconhecimento e bonificação. As regras de reconhecimento e as possíveis bonificações pessoais são extremammente variáveis. Pessoas tem desejos que nem sempre compartilham e ter suas demandas ignoradas pode ser um grande motivador de descontentamento e conflitos. Nem sempre o dinheiro resolve o problema, pode ser falta de uma palavra e um aperto de mão. Seja claro sobre como funciona o sistema de reconhecimento da empresa e se coloque disponível a ouvir demandas. Como as pessoas com que você trabalha hoje desejam ter seu trabalho reconhecido? Pode ser que alguns surpresas saiam daí. 12- Remuneracao e beneficios. O sistema de remuneração é o que, normalmente é o mais claro entre contratantes e contratados. Ainda assim, existem as situações difíceis em que nos colocamos em busca de respostas. Veja, por exemplo, o caso da Gravity Payments cujo CEO estabeleceu um corte no próprio salário milionário para que o piso salarial da empresa ficasse em cerca de setenta mil dólares anuais. Isso não estava no contrato de ninguém e, embora alguns tenham tido bons aumentos, outros se sentiram diminuídos ao terem seu piso equiparado ao de outras funções. A parte complicada é lidar com o dinheiro e a solução é comunicar tudo sempre.