Ninguém mais duvida – assim espero – que a tecnologia está transformando a nossa forma de trabalhar, produzir. Inteligência Artificial (IA), machine learning e outros termos mostram que máquinas são capazes de 'aprender' a fazer tarefas que antes eram apenas humanas. Quando eu escrevi sobre transformação digital na semana passada, foi inevitável mencionar soft skills. Mas achei melhor reservar um texto só para isso, principalmente depois de algumas pesquisas que fui fazendo e comprovando que essas habilidades são determinantes para o profissional do futuro/ agora. Enquanto carros autônomos, drones que fazem entregas, viadutos reutilizáveis e várias outras inovações da construção civil acabam parecendo distantes para muitos, ainda que já sejam reais, existem exemplos mais 'palpáveis' de como a tecnologia substitui muitos dos trabalhos das pessoas. Basta pensar em vários processos nas empresas e nas transformações ao longo dos anos que foram extinguindo atividades e profissões. Mas uma coisa em especial chamou a minha atenção. No mês passado, o jornal britânico The Guardian publicou um artigo escrito por um robô, com um título bem incômodo: 'Um robô escreveu este artigo na íntegra. Já está assustado, humano?'. O texto foi feito por pelo GPT-3, uma tecnologia de geração de linguagem por meio da Inteligência Artificial, que conta com um sistema de deep learning (aprendizagem profunda) para escrever 'como se fosse gente'. Falei disso porque essa história acabou me fazendo lembrar de outro artigo, dessa vez feito a quatro mãos e dois cérebros – John Hagel III e Maggie Wooll –, que falava sobre a ressignificação do trabalho. Uma das reflexões que os autores fazem é sobre as empresas terem necessidade de redução de custos, de agilizar processos em geral e, com isso, apostam em recursos da tecnologia. E, claro, você faz isso na sua empresa, da mesma forma que o outro gestor faz na dele e assim por diante. E como ficam as pessoas nisso tudo? 'À medida que as empresas começam a identificar a necessidade de redefinir o que é trabalho, descobrirão que também precisam redefinir como pensam sobre onde o trabalho é feito, como é feito, quando é feito e quem realmente o fará.' Ou seja, não surpreendentemente, o artigo menciona que as empresas 'precisarão considerar como cultivar as capacidades de curiosidade, imaginação, criatividade, intuição, empatia e inteligência social'. Acrescento ainda habilidades como a comunicação assertiva – de saber se posicionar e quando fazer isso da melhor forma possível –, a capacidade de aprender – uma das soft skills mais atuais, na minha opinião –, assim como a adaptabilidade, num mundo em que a diversidade está cada vez mais presente. Reforço também a importância do propósito, de dar sentido às coisas que fazemos. Se o mundo vai num caminho em que os líderes e empresas buscam privilegiar impactos positivos na sociedade e no ambiente, vejo que o propósito individual e a capacidade de julgamento farão as pessoas seguirem líderes e empresas com ações genuínas. Sem medo do robô Sinto que o profissional, o gestor, o líder que tem essas habilidades ou que está no caminho para desenvolvê-las, não precisa ter medo do robô que escreve artigos, nem mesmo de toda a inteligência que está transformando nossa relação com o trabalho. Para mim, no fim das contas, essas 'skills' não têm nada de 'soft', pois acabam fazendo um peso admirável na balança do sentido do trabalho. Claro que domínio técnico é primordial. Mas quando nos deparamos com artigos que questionam 'o que é trabalho' e como essa resposta mudou tanto ao longo dos tempos, fica claro que precisamos de algo muito mais profundo que a técnica. Gosto de pensar que esse processo não pode jamais ser no estilo 'cada um por si'. Não acredito que aprendemos sobre inteligência emocional, por exemplo, sozinhos, só com os muitos cursos e leituras que temos sobre isso. São válidos, isso é fato. Porém, se estamos falando de habilidades essencialmente humanas, o relacionamento entre pessoas é o caminho para ressignificarmos o trabalho. Acredito em uma atuação intensa de cultura organizacional, inclusive, com um poder expressivo de liderança, gestão e desenvolvimento de pessoas. Nessa frente, deixo aqui outra citação do artigo: 'Redefinir o trabalho é uma meta, não um processo – a intenção não é criar outro processo rígido ou teologia de gestão em sua organização. Em vez disso, procure minimizar o número de tarefas rotineiras que os trabalhadores devem realizar e maximizar o potencial de solução de problemas fluida'.