O acidente com o avião da Germanwings, em março deste ano, colocou a depressão nas manchetes dos noticiários, com a publicação de algumas opiniões apressadas sobre esse transtorno mental cada vez mais comum na sociedade contemporânea – segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo. Passada a comoção inicial da tragédia, é hora de refletir sobre as reais responsabilidades no diagnóstico e apoio ao tratamento desse transtorno pelos gestores de pessoas das empresas. Se considerarmos que o tempo médio dedicado por um indivíduo as suas atividades profissionais é de, no mínimo, 12 horas e que o ambiente organizacional nem sempre é do mais saudáveis, torna-se imprescindível que os gestores de pessoas fiquem atentos as suas equipes. Vários fatores podem levar à depressão, como questões sociais, psicológicas e biológicas, mas seus sintomas, que podem variar de indivíduo para indivíduo, não são difíceis de serem identificados. Os mais comuns, conforme definição da OMS, são tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimento de culpa e baixa autoestima, distúrbios do sono ou do apetite, além da sensação de cansaço e falta de concentração. Sejam quais forem os sintomas e por mais competências que o profissional tenha, seu desempenho é afetado, de maneira mais leve ou mais profunda, impactando em seus resultados e entregas. Em muitas organizações, existem programas estruturados de qualidade de vida, de saúde e bem-estar, dentre outros, cujo objetivo é proporcionar ao funcionário uma vida mais saudável, o que, naturalmente, reflete em seu desempenho no dia a dia. No entanto, nem sempre tais programas identificam imediatamente os profissionais que passam pela depressão. É imprescindível, portanto, que a área de Recursos Humanos e os gestores de pessoas estejam bem afinados em relação à melhor forma de identificar e dar suporte para seus profissionais. RH deve capacitar os líderes para que tenham esse olhar mais afinado e maior sensibilidade para perceber quando algo não vai bem com algum membro de sua equipe. Ou seja, o líder precisa conhecer mais profundamente cada indivíduo de sua equipe para que possa identificar sinais de que ele não está bem. Manter uma relação próxima e saudável e colocar-se à disposição do funcionário são excelentes formas de dar o suporte necessário numa questão de depressão. Um diálogo franco e transparente favorece uma relação de confiança para que, juntos, líder e funcionário possam encontrar uma solução para o tratamento da depressão: seja o encaminhamento para uma área médica específica ou entendimentos dos motivos desencadeadores da doença e que podem estar ligados a questões de insatisfação no trabalho. Para quem tem dúvidas do quanto a depressão custa para as empresas e a sociedade em geral, o ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, afirmou no seminário The Global Crisis of Depression (A crise global da depressão), realizado em Londres, no ano passado, que os custos diretos e indiretos do distúbio eram estimados em US$ 800 bilhões (mais de R$ 2 trilhões) no mundo todo em 2010, podendo, de acordo com as previsões, mais do que dobrar nos próximos 20 anos. Ana Maria de Freitas é diretora geral do IPO – Instituto de Psicologia Organizacional