Retorno de Trump intensifica disputas comerciais e exige do Brasil postura estratégica para mitigar riscos e identificar oportunidades comerciais A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz consigo uma mudança significativa nos rumos da política econômica norte-americana cujos efeitos já começam a ser observados em todo o ambiente de negócios global. Mas o que isso significa para o Brasil em termos de desafios e oportunidades? Fato é que, tendo iniciado seu segundo mandato à frente da Casa Branca há pouco mais de um mês, Trump já anunciou uma série de medidas relevantes, oferecendo um vislumbre de como será conduzida a gestão 2.0 do líder da maior economia do mundo cujo PIB, em 2024, superou a casa dos US$ 29 trilhões segundo o FMI. Nesses primeiros passos, o que se vê é o fortalecimento de uma postura protecionista, que inclui tarifas sobre importações e negociações mais agressivas nas disputas comerciais, especialmente com a China e a União Europeia. Em que se pesem as justificadas preocupações sobre os impactos que essa política pode ter sobre parceiros comerciais dos EUA – postura essa, aliás, alinhada ao lema de campanha de Trump 'America First' – e que já alcançam o Brasil quando, pensamos, por exemplo, no embate sobre a taxação do aço importado pelos Estados Unidos, há algum consenso no mercado de que o Brasil, ao manter uma abordagem diplomática e pragmática com relação ao Governo Trump, pode não apenas evitar impactos negativos, mas também se beneficiar de uma reorganização das relações comerciais globais. Além disso, quando consideramos a importância do Brasil tanto como fornecedor de commodities estratégicas para os Estados Unidos – incluindo o Petróleo – quanto por ser um dos principais mercados para produtos norte-americanos (só na indústria química, os EUA têm um superávit de US$ 8 bilhões no comércio bilateral com o Brasil); é possível antever um contexto de preservação e até de melhora nas relações entre os dois países. Isso, no entanto, claramente depende da capacidade do Governo Brasileiro de negociar com equilíbrio e sem abrir mão de interesses centrais para o país. Guerra comercial ou estratégia política? Talvez seja precipitado falar em guerra comercial, mas, ao que tudo indica, teremos um aprofundamento das disputas entre as grandes potências econômicas, especialmente entre Estados Unidos e China, com o retorno de Donald Trump à presidência. Já vimos um primeiro capítulo deste embate, com os Estados Unidos impondo tarifas de 10% sobre a importação de produtos chineses e a China, por sua vez, respondendo com a imposição de taxas de até 15% para o carvão, gás natural, petróleo, equipamentos agrícolas e alguns automóveis americanos. Nesse contexto, China e até mesmo outros países, incluindo nações europeias, podem buscar alternativas para reduzir sua dependência dos EUA e o Brasil pode ser beneficiado como um parceiro confiável para o fornecimento de commodities essenciais, como soja, carne e minério de ferro, que historicamente são alvos de grande demanda internacional. Ato contínuo, caso Trump amplie as restrições à importação de produtos manufaturados da China, há possibilidade de que empresas chinesas busquem o Brasil como um destino estratégico para investimentos e produção local, evitando assim as barreiras tarifárias impostas pelos EUA. É importante deixar a ressalva de que, mesmo com a importância do Brasil no comércio bilateral com os Estados Unidos, isso não significa que novas taxações do Governo Trump não possam avançar também sobre produtos brasileiros. Em seu primeiro mandato, por exemplo, Trump também chegou a tarifar o aço brasileiro e, à época, o Brasil foi hábil na negociação de isenções, evitando danos mais severos ao setor. Daí a necessidade de uma diplomacia ativa e estratégica por parte do Brasil nesse novo tabuleiro comercial global. Desafios e possibilidades para o Brasil No cenário atual, parece razoável que o Brasil, ao invés de se posicionar unilateralmente ao lado de qualquer uma das potências em conflito, assuma uma postura que, ao mesmo tempo, reforce sua autonomia e amplie suas parcerias comerciais. A diversificação dos mercados internacionais se torna ainda mais importante diante de uma eventual escalada protecionista nos Estados Unidos. Nesse mesmo sentido, a ampliação dos acordos comerciais com a União Europeia e com economias emergentes pode reduzir a dependência brasileira das oscilações nas relações entre EUA e China. Além disso, a busca por maior integração comercial na América Latina pode fortalecer a posição do Brasil como um polo estratégico na região. Tudo isso, no entanto, deve ser conduzido sem que o Brasil atue de modo propriamente antagônico ao Governo Trump – e mesmo em caso de novas barreiras tarifárias. Medidas simplesmente retaliatórias podem, inclusive, causar mais danos ao Brasil do que aos Estados Unidos, ampliando uma assimetria na relação comercial com os EUA. Certamente, estamos falando de um equilíbrio delicado, mas essencial para que o Brasil seja capaz de expandir sua relevância global sem se tornar refém de um único mercado. Inteligência, flexibilidade e visão estratégica serão fatores decisivos nessa dinâmica complexa e que, sem dúvidas, não é para amadores.