Debater desenvolvimento humano nas organizações implica em olharmos para fora e dentro de suas estruturas formais e informais e nos questionarmos como o ser humano está sendo compreendido, tratado e envolvido dentro da tomada de decisões e planejamento das estratégias empresariais. O materialismo, o consumo e o racionalismo – próprios dos modelos tradicionais das teorias da administração – vão dando espaço a algumas abordagens mais humanizadas e baseadas em valores. Essas abordagens encaram o ser humano como ser que quer uma inspiração a mais para o trabalho, além de aspectos financeiros; quer ainda aprender, crescer, ajudar outras pessoas, encontrarem prazer no que fazem. A partir desse entendimento nascem também as novas teorias de liderança. As organizações não são constituídas por aquilo que está em seus balanços financeiros e sim pela motivação, conhecimento, valores e emoções de todos aqueles que estão por trás desses balanços, afirma Zohar e Marshal (2006). Ademais, o ser humano é o maior bem que a organização possui. Passos (2011) afirma que a sociedade moderna tem privilegiado uma razão instrumental, que coloca a ciência e a técnica em primeiro plano, deixando de lado o aspecto humano e sua emancipação. Esta lógica, orientada por valores econômicos, coloca o ser humano apenas como máquina ou peça de engrenagem produtiva, impedindo, assim, o verdadeiro desenvolvimento das suas necessidades e capacidades. Passos (2011, p. 65) reforça que:A ciência e a tecnologia precisam ser colocadas, em todas as instâncias, a serviço da vida, da harmonia, do respeito, da integridade. O que significa dizer que o ser humano precisa ser visto como fim, que não deve ser negligenciado, nem mesmo dentro da estrutura organizacional mais tecnicista e lucrativa possível. As empresas não podem ser colocadas acima dos indivíduos, ao contrário, elas devem existir para eles e por eles. Neste sentido, o foco das políticas de desenvolvimento nas empresas deve priorizar as pessoas e o seu potencial, pois, na medida em que se investe na pessoa humana, como consequência deste investimento, aumenta-se as condições para atender tanto os objetivos individuais quanto organizacionais. Uma prática de desenvolvimento humano integral nas organizações se materializa através de uma real preocupação pela realização dos indivíduos enquanto seres livres e conscientes. Esta real preocupação, traduzida em ações concretas como oportunidades de crescimento para todos, acesso as informações necessárias para o desenvolvimento das atividades diárias, respeito à diversidade, entre outras, reflete um ambiente ideal para o estímulo à criatividade e, consequentemente, à formação de equipes de alto desempenho. Essas práticas partem do princípio de que a evolução pessoal precede a evolução empresarial. Cashman (2011) afirma que a evolução é o resultado da reinvenção emocional e espiritual e que ela é autogerada. Na medida em que o ser humano permite a si e aos outros mudarem suas atitudes e comportamentos isso pode conduzir a uma renovação e evolução com impactos no mundo do trabalho. Quando se trabalha sem associar à atividade um sentido e um propósito, o trabalho se transforma em mera obrigação e uma sequência de tarefas e obrigações diárias. Todos anseiam por significado. O ser humano precisa associar o que faz à utilidade e valor para as pessoas ou para o planeta. O significado é uma das recompensas não materiais mais importantes para um profissional e cabe ao líder ajudar sua equipe a entender o alcance amplo daquilo que produz. Diante do cenário atual do mundo organizacional, é inegável que precisamos urgentemente de modificações, de quebra de paradigmas, de melhorias e de um novo modo de conceber as relações que estabelecemos neste espaço. O que podemos perceber na abordagem dos diversos autores é que todos estes caminhos sugeridos têm algo em comum: nos mostram a importância da valorização, do autoconhecimento, da transformação e da ampliação da consciência do ser humano, uma vez que o ser humano é o ponto de partida, é a chave de todo o processo de transformação. A temática do desenvolvimento humano não se esgota aqui, novos movimentos que buscam pontos de interseção entre estas e a criação de novos conceitos que surgem a partir da combinação destas, indicam novos rumos para esses estudos e debates em todo o mundo. REFERÊNCIAS CASHMAN, Kevin. Liderança autêntica de dentro de si para fora. Como liderar a partir de seus valores pessoais. São Paulo: M. Books, 2011. PASSOS, Elizete. Ética nas organizações. Ed Atlas. São Paulo, 2011. ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. Capital Espiritual: usando as inteligências racional, emocional e espiritual para realizar transformações pessoais e profissionais. Rio de Janeiro: Best Seller, 2006.