No início do ano passado, nós publicamos aqui no Administradores.com uma matéria sobre como um tímido projeto que nasceu dedicado a cobrir esportes menos tradicionais se converteu numa grande potência tendo o digital como seu motor propulsor. Pois bem. Não passou nem um ano completo desde então e essa iniciativa, que já se apresentava grande, hoje está à frente de uma empreitada que pode lhe conferir ainda mais grandiosidade, tanto no sentido literal (resultados financeiros) quanto num aspecto mais intangível e relacionado à percepção que o público terá de sua marca. Se você acompanha o futebol nacional, deve saber que entre o final do ano passado e o início deste, em meio à crise nas entidades representativas desse esporte e ainda sob as cinzas do fracasso na Copa do Mundo de 2014, alguns clubes resolveram se rebelar contra sua confederação oficial – a CBF – e à não-oficial – a Rede Globo. Os rebeldes ganharam o apoio de entidades representativas dos jogadores, como o Bom Senso F. C., e encontraram um aliado disposto a bancar o front econômico dessa guerra. Sim, o Esporte Interativo. Historicamente, as transmissões dos jogos de futebol no Brasil são monopolizadas pela Globo. Hoje, a Band transmite algumas partidas e, no passado, SBT e Record já se aventuraram na coleta das migalhas deixadas pela concorrente nessa seara. Mas, via de regra, quem dá as cartas é a emissora dos Marinho, que controla também os canais de assinatura Premiere FC e SporTV. E, por hora, é nesse espaço que a guerra está pegando fogo. O Esporte Interativo abriu o cofre e está cobrindo os valores que a Globo paga pelas transmissões a cada clube. Alguns não aceitaram a proposta do novato. Outros fecharam e têm despertado a ira da gigante que monopolizava tudo outrora. Percebam que aqui há dois aspectos cruciais que tornam essa situação extremamente peculiar. O primeiro é o fato de, pela primeira vez, uma empresa ter resolvido peitar para valer a Globo e criar um mínimo de concorrência na área. Isso é bom para o espectador e até para a própria Globo, embora ela não se conforme. Com bons concorrentes no mercado, todos vão precisar inovar, aperfeiçoar processos e fazer tudo que estiver a seu alcance para se sobressair. Hoje, por exemplo, muitos fãs do futebol se dizem mais satisfeitos com os narradores do EI do que com os dos canais globais. O outro aspecto é que os clubes brasileiros vão ter mais liberdade para negociar. Sem concorrência, a Globo poderia pagar o que quisesse. Aos clubes restava aceitar, ficar sem transmissão ou se contentar com a Band, que não chega perto da audiência que grandes patrocinadores esperam. Mas por que alguns clubes têm resistido a abandonar a Globo, mesmo com o Esporte Interativo oferecendo mais dinheiro? A publicação feita pelo EI em sua fanpage e que está reproduzida na imagem que abre este texto explica um pouco. A força da Globo é imensa e, para os clubes, mesmo recebendo menos pelas transmissões, acaba sendo mais 'interessante' continuar com a gigante, sob o risco de ser boicotada na programação. A Globo não se posicionou sobre a acusação feita pelo EI e os motivos pelos quais não deu cobertura ao clube que foi para a concorrência não podem ser comprovados. Mas essa não é a primeira vez que um clube ou o Esporte Interativo fazem esse tipo de denúncia. Cabe aos torcedores e aos dirigentes o trabalho de engrandecer suas marcas independente da Globo. Tornar os times suficientemente grandes e relevantes para o público é o único caminho para fazer frente à gigante, que não poderá ignorá-los, mesmo que seus jogos sejam transmitidos por outra emissora. As últimas Olimpíadas são um exemplo. A Globo perdeu os direitos de transmissão para a Record. Durante os meses que antecederam os jogos, até que a emissora conseguiu deixar o assunto em segundo plano. Mas quando as atividades começaram para valer foi impossível fazer vista grossa. Aguardemos os próximos capítulos. Em tempo: quando me refiro ao Esporte Interativo como “anão”, não tenho a intenção, em momento algum, de diminui-lo. E também tenho consciência de que hoje o canal pertence a um grande grupo internacional. Mas é importante ressaltar que se trata de uma empresa que começou pequena, galgou espaços e hoje é o que é.