Neste mês de junho de 2013 pudemos acompanhar manifestações que levaram às ruas insatisfações de milhões de brasileiros que se deslocaram de suas casas ou do trabalho e foram reivindicar várias coisas, desde redução na passagem de ônibus, até o fim da corrupção que viola nossos direitos civis. E vimos, com olhar aturdido e pasmo, a dificuldade dos líderes em entender o que estava acontecendo. Observamos uma Polícia Militar que se sentia acuada perante as manifestações, pessoas que gritavam palavras de ordem e, assim, a multidão pressionou uma decisão não negociada. Depois de muito, fomos surpreendidos com o discurso da Presidenta e percebemos, também, sua falta de habilidade, a dificuldade em se posicionar de maneira clara e assertiva. Sem querer analisar os aspectos sócio-políticos, gostaria de salientar a importância do preparo dos líderes na negociação de soluções. Líderes de empresas, por vezes, também se saem muito mal de situações tensas com suas equipes, pela dificuldade de se posicionar e de chegar a uma conclusão satisfatória a embates, desde os mais simples, aos mais complexos. Vejamos, então, algumas dicas simples que facilitam as negociações e a forma como lidar com conflitos: – o primeiro ponto é entender que os conflitos são naturais e que, a partir deles, podemos negociar soluções interessantes para a empresa e para os colaboradores. Ou seja, líderes autoritários, que não permitem a expressão de sua equipe, demonstram medo e pouca habilidade na solução de conflitos, porque entendem situações tensas como ameaçadoras; – o segundo ponto fundamental é ter claro o que se quer de uma negociação ou da solução de um conflito, qual o real interesse das partes envolvidas. Para isso, chega-se ao terceiro ponto: – escutar com todos os sentidos, e não somente com a audição, tudo que está sendo falado, desde as solicitações, até as expectativas não atendidas. É olhar, tocar, cheirar as falas, é praticar o que os americanos falam de 'calçar o sapato do outro', entendendo profundamente o que a outra ou as outras pessoas querem; – colocar a razão em primeiro plano, deixando a emoção ser uma coadjuvante no processo e não a protagonista. Entender o que está se sentindo de maneira madura e não entrar nos mecanismos de defesa que afastam as pessoas de um entendimento mais claro do que se quer; – pensar nas várias alternativas para resolver a situação e não apenas ficar preso a um modelo mental; – olhar o todo e não só a parte, ou seja, pensar na solução como algo mais global e não apenas fragmentado. Esse é um exercício e tanto, porque temos a tendência de olhar sempre de forma direcionada a solução de um conflito ou a negociação de uma situação; – manter a delicadeza e a calma, sempre. Por mais que a situação seja difícil, educação e calma ajudam na conversa. Nunca se sabe quantas voltas o mundo pode dar e uma postura gentil sempre facilitará o relacionamento; – firmeza e clareza nos pedidos ajudam o outro a entender o que de fato se quer. Posturas evasivas e muito distantes mostram falta de envolvimento; – o envolvimento demonstra confiança e tudo que se precisa, ao negociar com outras pessoas, é desenvolver uma relação confiável, onde é possível compreender as posturas e que sejam possíveis perguntas para clarificar as posições. Sem dúvida, por vezes existem interesses divergentes, mas sempre há, entre dois pontos opostos, um que entrecruza e define interesses coincidentes. Buscá-lo e trabalhar em sua direção facilita a negociação. No entanto, quando a confiança se esvai, qualquer tentativa de conciliação é muito árdua e, às vezes, infrutífera. Assim, quando o povo sai às ruas, quando os colaboradores entram em greve, quando casais resolvem partir para a briga ou quando países começam uma luta armada, muitos desses aspectos listados acima não foram levados em consideração. Portanto, entendendo que os conflitos e as negociações ocorrem sempre, prepare-se conscientemente para todas as conversas, alinhamentos de expectativas e solicitações. Com certeza, esse preparo tornará mais fácil sua jornada como líder. Fátima Motta é sócia-diretora da F&M Consultores.